Aquele que procura faíscas...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Confuso Horário


Rolava na cama e nada. Ficou com fome e resolveu comer duas bolachas salgadas com requeijão e uma fatia fina de peito de peru defumado. Já era tarde, mas com o estômago reclamando não tinha jeito, não conseguiria dormir.

O exílio voluntário permitiu que ela se conhecesse melhor. Já não mais se incomodava com os longos dias consigo mesma. Mas com as noites sim... Já havia tentado de tudo, mas o quentinho do corpo do homem acamado fazia uma falta danada.

Rolava e nada... Vinham ideias na cabeça e ela acendia a luz de cabeceira para tomar notas. Fragmentos de contos, as bonequinhas do livro infantil, a consultoria sobre redes sociais, a estrutura do livro burocrático e até a assessoria política... Tudo girava e só não era pior do que enjôo de birita. “Saco!”, esbravejava em voz alta.

Acordava e tinha uma rotina boa: água, leitura, café, escrita, cozinha, escrita, lanche-almoço, leitura, exercícios, caminhada boa, lerê, lerê, banho, vinhozinho, leitura, escrita e, finalmente, beijo melado... Embora detestasse rotina, essa era a melhor delas.

Nada... E quando eram assim as noites mal dormidas, afogava-se num copo cheio de fantasias e deixava a madrugada tomar conta de seus devaneios até que conseguisse dormir.

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

A nostalgia dos Canalhas

Diálogos internos intermináveis novamente... Parece que o sentido da minha existência é aprender a conviver comigo mesma. Vai e volta a mesma situação. O Universo me testando... Então me pergunto: abrir a porta do carro para ela, acender o cigarro de uma mulher qualquer ou mesmo carregar peso para sua mãe, irmã ou amiga, pode estar fora de moda, mas virou motivo de vergonha?

É claro que o cara não TEM QUE fazer gentilezas, ele pode ser um tosco, um selvagem, um grosso. Do jeito que o ‘mercado’ está, pode até ser um completo imbecil e fanfarrão. Mas se ele for atencioso, carinhoso, gentil ou companheiro, mesmo que num momento de distração, será julgado de forma negativa? É preciso dar uma esculhambadinha para se sentir normal?

O canalha de Nelson Rodrigues era o vigarista do amor. Era o canalha não assumido que fazia gentilezas em nome de uma boa trepada. Hoje em dia nem isso. Nem mesmo a doçura do Canalha sobrevive. É óbvio que ele não vai pagar a conta. E oferecer o próprio guarda-chuva, só para dar uma romantizada? Nem pensar! Toda e qualquer atitude que contenha um mínimo de nobreza é espremida num canto escuro e lá apodrece, a passos largos.

"Hoje é muito difícil não ser canalha.

Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." Nelson Rodrigues

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Tal Fada da Presunção

Lá vinha ela: a debochada Fada da Presunção!

Ele lia a mensagem duas vezes antes de tirar quaisquer conclusões e não tinha como ter uma melhor: lá vem ela!!


Por que as pessoas te tiram pela primeira impressão?

Sei não...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Desgraça!


Vou me casar!

Desgraça, desgraça!

É quase madrugada e eu aqui falando comigo mesmo. Desgraça! O que fazer depois do sanduíche de rosbife?

Trecheira difícil de engolir. Cansado. Cansado. Cansado de tudo e do nada. Vem amor, a poesia é livre. Vem e vem porque o dia é vivre. E verde de viver, roxo de matar e morrer. Vida louca, vida de acontecer.

Vou casar, vou casar!

Mate-me, por favor!

Vou casar!

Aonde está o meu amor?!?!

Linda mulher passeia no abismo... Passeia, passeia... E sente saudades. Quem é ela? Quem sofre. Ela é linda e é o retrato da morte.

Moça linda, vou me casar. Vem cá, vem cá! Aonde você está?

E a cachaça, sempre ela. Volta e meia aparece. E desaparece. E volta. Maldita! A bendita da cachaça.... Mas nunca é bom partir.

Casamento Americano

E, finalmente, ouço: "I Now Pronounce You Man And Wife."

E... Cadê o beijo?!?!? Não é essa a hora do tão esperado (e meio pornográfico, cheio de línguas, para os audaciosos) beijo em pleno altar?

Não.

Não aconteceu.

E minha cabeça girava de dúvidas ao mesmo tempo em que minha bexiga estourava de vontade de despejar tudo no vaso sanitário. Só existem dois momentos interessantes nos casórios: a entrada da noiva e o tal beijo. Só. O resto é uma balela de tradicional religiosidade que põe qualquer um para dormir. E ainda tem a hora da Eucaristia (eu estudei em colégio de freiras e fiz Primeira Comunhão, então tenho um certo respeito que me faz escrever tudo com letras maiúsculas). Quanta bobagem. Eu lá, doida para aliviar minha vontade de urinar e finalmente começar a esbórnia, e no entanto fazia cara de paisagem e prestava a atenção nas roupas das pessoas. Nas vestimentas das mulheres, basicamente. Cada pérola...

Foi quando finalmente o Padre começou a Comunhão. Os convidados levantavam-se para ingerir aquele miolo de pão grudento, sem fermento, puros de seus pecados, pois provavelmente haviam confessado - e certamente pecaram mais do que nunca naquele mesmo dia, naquele mesmo instante, em seus pensamentos.

Foi quando eu, perplexa em meu ranço Católico Apostólico Romano, observei a fila dos rapazes padrinhos do noivo, todos na faixa dos 30 anos: levantaram-se, um a um, e colocaram na boca aquele pedaço de pão ázimo. O casamento americano é assim: a noiva escolhe somente madrinhas e o noivo, apenas padrinhos. Todos pecadores até o último fio de pentelho e lá estavam, com o Corpo de Cristo grudado nos céus de suas bocas... E eu, que já estava doida para enterrar o último fiapo de culpa católica na cova mais profunda, pensei: when in Rome, do as the Romans do...

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domingo, 10 de julho de 2011

Amizade Diuturna

- “E amizade tem hora?”

Perguntou, com voz doce, esperando uma resposta simples.

- "Há quem diga que não, que amizade verdadeira é pra toda hora. Mas muitas vezes pra fazer um relacionamento dar certo é preciso ter dia e hora para começar.”

Ela ouviu e fez que sim com a cabeça, mas a verdade é que amizades duradouras são baseadas na simplicidade. E não tem hora. Nem dia. Se tem hora pra começar é porque tem hora pra terminar, e então não é amizade.