Aquele que procura faíscas...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Zzzzzzzzzzzzz

Não queria dormir de jeito nenhum. Lutava contra o sono com todas as suas forças e fazia pirraça na sala de estar. Quando já estava praticamente sendo arrastada para o quarto, o telefone tocou e correu para atender. Excelente desculpa para fazer um pouco mais de cera.

Era sua avó.

- Oi filhinha, tudo bem? É a vovó.

- Não quero dormir... (Disse, miando, a pequena.)

- É, filhota, tá meio cedo mesmo pra você dormir, né?

- Vó, não quero dormir... (O miado ficava ainda mais melado e ininteligível.)

- Vá pro seu quarto, querida. Obedeça à sua mãe. Peça à ela um filminho, assim você vai descansando até dar vontade de dormir. Que tal Alice no País das Maravilhas, que você adora?

- Huummm.... (E passou o telefone para o adulto mais próximo.)

Saiu da sala inconformada. Não estava com a menor vontade de dormir. Por que é que tinha que ir para o quarto? Por que não podia ficar ali mais um pouquinho? Estava tão divertido ouvir as conversas dos adultos na sala...

A mãe andava atrás dela, dando palavras de ordem: “Troque de roupa!”, “A camisola limpa está na cadeira!”, “Vai escovando os dentes enquanto eu vou pegar um pouco mais de vinho pro seu tio!”, “Não esqueça de...”. E ela se desligou do blábláblá, porque já não estava mais interessada. Queria ficar na sala, ou então nem daria ouvidos.

Vinte e cinco anos mais tarde o ocorrido veio à cabeça logo após ter colocado a pílula de melatonina na boca e ajustado o travesseiro entre as pernas - hoje também não estava com a mínima vontade de dormir. Não queria recorrer ao Rivotril, apesar da insistência médica. “Esses doutores hoje em dia não passam de traficantes de jaleco.”, pensava.

Que saudades tinha da sua avó.

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