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Já meio embriagada virava para cima e para baixo a carta do
estrangeiro. De tanto carregar o pedaço de papel para todo canto o mesmo já
começava a romper-se no meio. Resolveu inspirar fundo, relaxar o maxilar e
fitar o corpo novamente, com a carta por cima do líquido inebriante.
A carta ainda estava lá. O amor ainda estava lá. Só quem não
estava lá era ele. Havia virado o patuá de cabeça para baixo e em seguida ficou
tão pensativa que coçou a orelha esquerda, enquanto o pé do mesmo lado repuxava
num pouco de câimbra na sola.
A esta altura os movimentos involuntários estavam quase que
incontroláveis e a rapariga coçava um pouco o cabelo, o rosto, tocava o anel do
polegar direito e sorria para o nada. A circulação dava sinal de problema e ela
mexia o dedão sorrindo para o pé pressionado pelo seu corpo cansado.
As coxas firmes tinham marcas arroxeadas. Era muito
desastrada. Saiu da posição em que estava. Tirou o foco de si mesma. Do lado de
fora os bichos cantavam e ela não se sentia mais encurralada. Era o dia que
chegava e assim o medo ia embora.
Sentia-se quase livre. “Nos dias de hoje, o quase é pleno.”,
pensava. “Foda-se a gramática!” Sentiu um cheiro estranho e cansou-se de ter o
olfato apurado. Estalou o maxilar e esfregou a sobrancelha esquerda. O ombro direito
foi o seguinte. E coçou a da direita arrumando e alisando o nariz quase que ao
mesmo tempo.
Olhou suas mãos. Os cantos dos dedos doíam do insistir
manual, mas a cabeça estava feliz, porque era tempo de festa. Ela não queria
saber de lamúrias, pois as borboletas vivem pouco e morrem livres porque dão
valor ao tempo. Olhava o dedão novamente. E a câimbra corria até a batata da
perna.
Tudo culpa do dedão.
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