Aquele que procura faíscas...

terça-feira, 12 de junho de 2012

A Cachorra: rompantes, empavonamentos e outras neuróias

http://fineartamerica.com/featured/1-elevator-julie-fischer.html


Surtou...

Do nada?



Neurótica! Diziam...

Mas a verdade é que era muito sã. E de tão sã adoeceu até a Cachorra, que uivava de noite quando a lua saía de mansinho. Pensava ser um gato alado, coitada. E queria sair voando e miando sem parar.



Certo dia chegou em casa e a pobre peluda estava lá, sentada na poltrona de pernas cruzadas. Sim! Pernas cruzadas! Contavam... Mas a verdade é que já tinha feito isso outras vezes, não fosse o espantamento pelo fato de estar de avental. Pensava ser chef de cozinha, tadinha. E esperava a cliente chegar para montar a praça. Mas a surtada apenas abria o pacote de ração e despejava na tigela escrita Bob (!). Em seguida, servia-se de um trago e ia dormir. Nem um afago. Nem uma palavra. Nada.

Espalharam por aí que a última vez que a viram antes do romance com o motorista da carrocinha tinha eclampsias sem estar grávida... Ele fora o primeiro de sua vida a lhe dar uma salsicha. E pegou infecção intestinal por isso, ainda por cima.

Coitada da Cachorra...

No entanto, ainda viveu um bom tempo, terminando o dia em gargalhadas aterrorizantes. Não sem antes entrar em coma profundo e dar um trabalho danado, afirmavam... Era contra a eutanásia e propositalmente ajeitou um testamento que deixava tudo para a vizinha que lhe jogava pedaços de galinha na intenção de sufocá-la antes de uma noite uivante.

A vizinha sabendo disso, entre um trago e outro, atirou-se copiosamente no caso da Cachorra e checava-lhe as necessidades a cada hora, limpando-a e perfumando-a de gratidão. A quadrúpede continuava gargalhando cada vez mais maquiavelicamente, só que agora sem ninguém ouvir.

Em seu epitáfio, Cachorra mandou o Papagaio escrever: “Aqui jaz uma mosca morta.” E o Grilo Falante discursou a única coisa que a peluda deixou escrita: Fodemo-nos todos!

Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário