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Banksy |
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Mais um que vai
sábado, 10 de dezembro de 2011
Joia Rara
Minha vida é única:
Singulares momentos.
Aqui não tem espaço para nada que já foi feito um dia.
Repeteco: o consolo dos medrosos. O alívio dos babacas.
Entro de cara nessa empreitada especial de ser eu mesma.
Faço cada momento valer a minha exclusiva existência.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Falar continua sendo fácil
Enfim. Não vou perder o fio da meada porque estou aqui mesmo é pra falar das tais fotos da minha ex, a Bia. Não tive coragem de jogar fora. Pois é.... Ela foi minha terceira namorada e a primeira (e única) que amei de verdade. Achei que fosse ser a mulher da minha vida e acabou não dando certo. Perguntei pra Carlinha o que ela achava de eu ainda ter fotos da Bia e ela se inflou toda. Disse ser um absurdo, que eu estava namorando há 1 ano e meio e que eu já devia ter feito uma faxina geral, nas lembranças físicas e na cabeça. Mas aí aconteceu uma coisa engraçada... Fui tomar um vinho depois do trabalho na casa da Carlinha e no meio da caixa das fotos de família tinha um álbum só com fotos de ex dela... Engraçado... No fiofó dos outros é refresco, né?
Moral da história: falar continua sendo fácil e conselho ainda não é vendido porque realmente não presta pros outros se não valeu pra você.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Infinitivo
Madrugar para Deus ajudar também não provei
E nem sempre a espera alcança
Nessas horas é melhor
Ajoelhar para gozar
Cantar para dançar
E sorrir para não chorar.
sábado, 26 de novembro de 2011
É aquele que fica, indisfarçável,Colado na cara sem graçaAmarelo ovo, amarelo gema,Amarelo farsaE no desespero,O portador nem disfarçaVeste o horrorE abraça a desgraça
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Zzzzzzzzzzzzz
Era sua avó.
- Oi filhinha, tudo bem? É a vovó.
- Não quero dormir... (Disse, miando, a pequena.)
- É, filhota, tá meio cedo mesmo pra você dormir, né?
- Vó, não quero dormir... (O miado ficava ainda mais melado e ininteligível.)
- Vá pro seu quarto, querida. Obedeça à sua mãe. Peça à ela um filminho, assim você vai descansando até dar vontade de dormir. Que tal Alice no País das Maravilhas, que você adora?
- Huummm.... (E passou o telefone para o adulto mais próximo.)
Saiu da sala inconformada. Não estava com a menor vontade de dormir. Por que é que tinha que ir para o quarto? Por que não podia ficar ali mais um pouquinho? Estava tão divertido ouvir as conversas dos adultos na sala...
A mãe andava atrás dela, dando palavras de ordem: “Troque de roupa!”, “A camisola limpa está na cadeira!”, “Vai escovando os dentes enquanto eu vou pegar um pouco mais de vinho pro seu tio!”, “Não esqueça de...”. E ela se desligou do blábláblá, porque já não estava mais interessada. Queria ficar na sala, ou então nem daria ouvidos.
Vinte e cinco anos mais tarde o ocorrido veio à cabeça logo após ter colocado a pílula de melatonina na boca e ajustado o travesseiro entre as pernas - hoje também não estava com a mínima vontade de dormir. Não queria recorrer ao Rivotril, apesar da insistência médica. “Esses doutores hoje em dia não passam de traficantes de jaleco.”, pensava.
Que saudades tinha da sua avó.
Em busca de vestígios
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Top Dream
E nesse vai e vem de vivos mortos o que acaba acontecendo é que no meio do dia você se lembra do sonho e acaba filosofando um pouco mais sobre sua vida - o que na maioria das vezes é uma perda de tempo. O top dream da semana foi o o casamento simbiótico com a pessoa que eu mais amei na vida. Mais do que a mim mesma, e por isso deu no que deu.
Em vez de sermos duas pessoas inteiras se relacionando, viramos duas meias pessoas com projeções. E o que antes era um casal, virou uma pessoa só. Mais ou menos isso. Acontece com a maior parte dos casais em maior ou menor grau, e no meu caso o grau foi extrapolado. Calamidade privada na certa. Uma tristeza.
Acabei buscando, mais uma vez, informação sobre relacionamentos simbióticos e achei um blog muito interessante. Lá, a doutora dizia que tem solução, embora afirme que seja mais fácil falar do que fazer. “Mas é só achar dentro da gente aquele lado que está perdido e recuperá-lo. Voltarmos a sermos um indivíduo por inteiro.”, afirma a médica.
E nesse momento existencialista cheguei à conclusão que nossos momentos de amantes eram mais sinceros. Ele estava comigo, eu estava com ele. E não havia mais nada lá fora. A partir do momento em que nos tornamos além de amantes, sócios, marido e mulher, além de melhores amigos e 'parceiros no crime', a coisa desandou.
É... Não dá pra ter tudo na vida…. Já dizia o sábio... E num relacionamento, não dá para ser tudo um do outro. Tem que, primeiro, ser inteiro.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Antes que seja tarde
No meio desse luto percebo que mais um outubro fica para trás. Um outubro atípico. Um outubro pensante e não festejante como todos os outros. O primeiro a dar sinais de cansaço dessa vida tola. E lendo o texto do dia ele aconselha “Vive intensamente.”. Mas não é isso que eu faço? Por que então um certo dia acordo sem cor, cheiro ou sabor? Na tentativa de alegrar o cenário pinto as unhas de vermelho. Sangue. Para provar que sou feita de carne, além do osso insosso. E que me importo. A indiferença não tem cor, nem sabor. Todo o resto é sim.
Levanto-me e preparo um chá. No armário, camomila, verbena ou hortelã? Hortelã, sem pestanejar.
Se encontros marcados realmente dessem frutos eu teria tido uns 12 namorados nos últimos anos. Mas não. E é aí que você percebe o quão equivocados estavam seus amigos. Não te conhecem nada. E muito menos os possíveis pretendentes. Ensimesmados querem apenas mais um casal para compartlhar suas chatices a dois. Como é irritante juntar-se à casais em programas coletivos. Você não só abre mão da sua individualidade para tentar dar certo com a pessoa escolhida, como também ainda tem que lidar com os caprichos dos outros demais.
Ai, gente chata. E eu já não disse que acordei apagada? Apagada e chata também. Que o dia acabe logo, antes que a garrafa chegue ao fim.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Carta da solidão
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Mundo Inventado
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Das loucuras daqui e Dali
"(...)
Há esta altura eu já estava quase que no estágio 3 da minha embriaguez. Lembrando que meu pai nunca me viu trôpega e que meu grau máximo é o 11.9 numa escala de 0 a 10... Enfim... Dali pra frente Salvador virou fichinha e dei um viva ao lobo da estepe.
Que venha a próxima loucura!!"
sábado, 1 de outubro de 2011
Rouquidão
Minha falta de voz grita.
Grita latente essa não voz.
E sigo na rouquidão infinita.
Nessa busca incessante e atroz.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Apesar da falta

"Não existe ex amor, cheguei à essa conclusão.
Se é amor, não acaba."
Leia mais em Oficina Compartilhada.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Anáguas, rendas e penduricalhos

"Podia morar ali dentro da fantasia
e a vida nunca teria que ter outro sentido
a não ser inventar."
Leia mais em Oficina Compartilhada.
sábado, 17 de setembro de 2011
Superexposição ou Emoção?

A onda vai
O vento vem
E o que mais queremos
Ninguém tem
Satisfação
É...
Quem vê Facebook
Não vê coração
Para a seleção da Oficina Compartilhada
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Little did he know

Não que fossem feministas, mas acreditavam que a mulher ainda ocupava um espaço muito minúsculo na sociedade moderna. Algum avanço foi feito desde as filosofadas de Simone de Beauvoir, mas nada que as tirassem da condição de gênero inferior. “Woman is the nigger of the world.”, já entoavam Lennon & Yoko.
Diversos relatos de amigas e conhecidas as insuflavam a ter sentimentos não muito nobres. O mundo era injusto, sim, mas muito mais para com elas. Costumavam aconselhar que não se importassem: a pior decepção amorosa seria.... A próxima! Falavam isso às gargalhadas, mas sabiam bem que era verdade.
E por mais que eles tentem entender, nunca conseguirão alcançar o que sente uma mulher traída, rejeitada ou mal amada. Podem buscar ajuda em terapias, teorias e filosofias... Não entenderão.
Nada é capaz de traduzir o sentimento único e entremeado que a mulher, muitas vezes ingênua, outras sonhadora, passa a carregar dentro do peito pisado e machucado por homens inábeis. Depois de uma, duas ou dez, ela entende o mundo que a maltrata e decide ser feliz. Parece até concordar com eles. Mas eles mal sabem que por si só já estão errados.
Não precisam nem abrir a boca.
Jogos Mentais ou A Culpa é da Tramontina

A falta de liberdade homossexual trazia certa amargura. E pro seu infortúnio, estava completamente apaixonada pela colega de trabalho mais velha, que de complexada não tinha nada, e ainda era um furacão na cama. Não sabia se assumia sua preferência ou comprava um jogo de panelas novo. O velho dilema.
No meio da confusão se envolveu com um sujeito macho. Muito mais pelo seu olhar doce do que pelo membro intumescido que a penetraria durante o relacionamento. Sensível, ele acabou se apaixonando e a moça – apesar de ter descoberto o sexo hetero com o rapaz – tinha certeza que preferia os beijos doces e o roçar macio das meninas.
Quando saía dos braços apaixonantes da mulher amada, sentia um misto de culpa e insatisfação social, que a levava a procurar o abraço mais forte. Só que imediatamente se arrependia e agia de forma estranha, pro desespero do rapaz enamorado. Ele, por outro lado, investia calado (esperto!), torcendo pra que ela lhe desse uma chance de mostrar que podia amar e ser amada sem complexos.
Até que ela escolheu assumir o namoro com o mancebo, sofrendo calada as saudades crescentes da amante preterida. O tempo passou e o rapaz recebeu uma oportunidade de emprego em Nova Iorque. Mudou-se com ele de mala e cuia pra viver o sonho americano, com casa, carro e dinheiro no bolso.
Foram felizes por um tempo e o casamento chegou ao fim juntamente com a mudança de volta à Pátria Amada. O tesão deu lugar à mesmice e não havia espaço pra amizade. Não tinham nada em comum. Nada. Voltou ao Brasil pra a vida de outrora: casa da avó com a mãe e suas neuroses. A falta de objetivo a empurrou pra a boemia. Tentava afogar nos copos a preferência por mulheres, o casamento fracassado e a dependência da família.
Não demorou muito e a insatisfação voltou contra o próprio corpo. Se achava gorda, além de inútil, e foi um pulo pra se enfiar em anfetaminas. Passava um pouco dos 30, mas tinha cara de menina, a pele aveludada e olhos amendoados. Logo arrumou outro namorado.
Moço rico, de família nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro. Herdeiro e disposto a ter mulher e filhos pra acobertar suas orgias homéricas nos inferninhos de Copacabana. Só que a morena de olhos amendoados também gostava de uma festa e não demorou muito pra cair na esbórnia com o pretendente e seus amigos.
Ele a convencia facilmente a ficar em casa: jantares sedutores, jóias caras e muita birita de qualidade mantinham a jovem de boca calada. Somando-se parcelas generosas de seu coquetel de bolinhas pra segurar o apetite e uma boa série de TV americana e a noite estava garantida. O herdeiro deixava a mocinha em casa e partia pra bagunça.
Apesar de contrariada ela aceitava tudo de boca fechada: estava satisfeita com sua vida de aspirante a dondoca. Ele reforçava os mimos toda vez que exagerava na dose: mais presentes, mais jantares. E até presenteava a família dela, pra que a moça não reclamasse do pouco contato que nutriam. O tempo passou e juntaram os trapos, festas, jantares, jóias, orgias e bolinhas.
Na ilusão individual de cada um, tudo daria certo. Ela teria um marido companheiro e ele uma esposa submissa. Foi quando ao final do terceiro mês a surpresa aconteceu. Sonhando com a tal mulherzinha dedicada, o maridinho chegou em casa com um pequeno enxoval, adquirido em uma aposta que ganhara no páreo da noite: talheres, jogo de chá e panelas.
Os olhos amendoados não gostaram nada do que estavam vendo. Como é que pode ele se meter num assunto tão específico? Ela queria decorar e comprar as coisas da casa! E queria panelas Tramontina! A vida inteira sempre soube que eram as melhores! A discussão começou branda e foi ficando feia, a ponto de voarem talheres pelo apartamento recém montado.
O sonho dourado desmoronava subitamente e não havia amor que salvasse o casal da maldição das panelas.
Para a seleção da Oficina Compartilhada
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Menina Rendada
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Tomorrow is a long time ago

O Segredo

Pascoal não tinha medo de nada. E pensava que no fundo era mesmo um sortudo. Sua vida parecia uma sucessão de felizes coincidências. Nunca lhe faltara nada. Casa, comida, amor... Tinha tudo de sobra: conforto, boa gastronomia, sexo apaixonado. “Vida boa essa.”, pensava alto toda vez que dava uma topada e achava que não merecia.
Mas acontece que a vida nunca é 100% boa. Tem sempre que haver alguma coisa a incomodar, algum problema, mesmo que você seja um otimista por Natureza, como o amigo aqui em questão. Nem aplicando a baboseira do “O Segredo” tem-se uma vida livre de percalços. Talvez essa teoria tenha começado com um cara como o Pascoal.
Otimista o suficiente para reclamar apenas de topadas, egocêntrico o suficiente para transformar isso em teoria e suficientemente inteligente para capitalizar em cima da tremenda estupidez que é a ignorância humana. Viva o Pascoal!
O podrão da praça

“Tomara que ela tome conta dele na velhice…” Pensava Cristina, enquanto comia um Chernobyl na Praça São Salvador, no Flamengo, Rio de Janeiro. Era assim que ela e os amigos chamavam a Kombi que lá pelas tantas cheirava a carne queimada, torrando bacon e cheeseburgers na madrugada. Depois de tanta birita, só Chernobyl salva.
Tudo começou durante o jantar. Mas desta vez Cristina ficou surpresa. De verdade. Para seu espanto o pai não falou de Gabriela, aquela por quem havia trocado sua família anos atrás. Hoje, já mais madura, ela nem a culpava. O pai, sim, era um vida torta. E talvez ficar com Gabi tenha sido a coisa mais sensata que ele tenha feito. “Pena que tenha cagado no pau antes, durante e depois, o que não sustenta nenhum relacionamento decente.”, refletiu, ao tirar da boca um pedaço de nervo da carne de quinta.
Gabi era 15 anos mais nova, mas muito inteligente e na época do affair já caminhava para ser independente. Homem não dava nó de marinheiro nela. Só nozinho comum, daqueles bobos, e mesmo assim porque ela deixava. Enfim, a história não é sobre Gabriela, é sobre Cristina, aquela que não vai colocar o babador no velho quando ele não puder mais comer sozinho.
Tem gente que fica tão viciada em si mesma que não consegue se reinventar. Então a solução é partir para a troca externa. Que também não é oxigenada. Troca-se um exemplar melhor por um outro pior. E cada vez pior, pior, pior. Isso porque se você não amadurece, não cresce, não atrai quem te empurre para cima. O treco desanda mesmo é ladeira abaixo. E o que sobra é um velho babão. Uma pena. Enfim. Vamos lá. Foco.
Então... O pai de Cristina é o velho babão da vida dela. Com a sorte de ter nascido bonito e talentoso, apesar de mau caráter. Sua vida sempre fora boa e nunca tivera medo de nada. Falta de medo essa que passou para a mãe da Cris, que vivia de pensão e se orgulhava de, pelo menos, ter se casado com um ‘nunca-será-pobre’ - como ela gostava de dizer quando ficava desesperada por conta de sua falta de iniciativa e habilidades práticas.
“O mau caráter e a sanguessuga...”, a frase ecoava, enquanto mais uma mordida levava bacon crocante para dentro sua mastigante boca. Cris os amava, claro, mas não a ponto de perder o bom senso. E também não o perdia agora, comendo um ‘x-burgue’ duplo com bastante maionese depois de ter jantado com o pai. Já eram 3:30 e o tal jantar durou exatos 50 minutos, tendo começado às 21:45. Era assim sua vida com ele. Cronometrada.
Encontraram-se na porta do prédio dela, às 21:15. E desta vez o motorista não foi buscar, como das últimas outras recentes. Depois que ele não deu certo com a Gabi, mudou-se para bem perto da família; e como uma forma de resgate, buscava ele próprio tanto ela quanto a irmã mais nova em ocasiões como essas. Como se fizesse alguma diferença... Enfim. Foco.
Às 21:20 estavam sentados no preferido pequeno restaurante do lado norte da Zona Sul carioca. Preferido do pai. Ele era conhecido e sabia que o serviço seria rápido. Em menos de 20 minutos pratos servidos e já enquanto todos ainda terminavam a refeição ele pedia a conta, ‘para ir adiantando’. Às 22: 35 pai e filha se despediam, sem muito calor no abraço curto. Não se importaram nem com a sobremesa.
E o assunto não passou nem por um momento pela Gabi. O babão havia finalmente eleito mais uma mulher para a vida dele. A segunda depois de sua mãe. E pelo visto importara do Sertão Nordestino. Preconceitos a parte, parecia mais uma das namoradinhas de bordel com quem ele circulava, só que desta vez ele pagou passagem e enfiou a mocinha com corpo de criança e cara marcada pelos mal tratos da pouca vida dentro de sua própria casa.
Ela até que não era feia – haviam se encontrado umas duas ou três vezes no Aterro do Flamengo, onde o pai tentava andar de bicicleta todos os domingos e em seguida almoçar no Porção Rio’s. O almoço acontecia mais frequentemente do que as pedaladas – efeito da ressaca acachapante. E na última vez ela, que se chamava Ana Rosa, havia clareado as madeixas, o que suavizou bastante sua expressão. Os cabelos ‘asa de graúna’ deram lugar a uma tonalidade loira amendoada.
O pai inventara o jantar para dizer às filhas que se uniria oficialmente à namorada. E por tê-lo feito de última hora – talvez pelo fato de querer tirar logo a decisão da cabeça para poder dormir melhor – sua irmã mais nova não pôde comparecer: era formatura do namorado. E ele, que já não tinha paciência para administrar as agendas, decidiu jantar somente com ela (“Pro Diabo sua irmã e seus compromissos!”, esbravejava o caloroso pai.).
O que ele queria que ela dissesse? Por acaso estava querendo aprovação? Depois de tantas burradas ele se importaria em ouvir o que ela tinha a dizer? Cristina tinha pena. Em diversas conversas familiares ele deixou escapar que achava que filho homem não cuida dos pais na velhice – e para corroborar sua suspeita, recentemente um de seus primos havia enfiado a mãe enferma em um asilo.
E assim, mesmo tendo duas meninas, por causa das suas trapalhadas e falta de dedicação à família, o medo de ficar sozinho crescia aos galopes. Obviamente. Já ultrapassava dos 50 anos e sua saúde dava sinais de fraqueza, pelos excessos cometidos desde a adolescência. Então, arrumou uma companheira jovem o suficiente para o divertir, burra o suficiente para não discutir e pobre o suficiente para se deslumbrar. Sua aposentadoria estava garantida, e Cris não dava a mínima, tinha sua própria vida para se preocupar.
E assim, dando a última mordida no Chernobyl, pediu mais uma latinha de cerveja e acenou para o ‘Seu’ Adão, dono da Kombi, com quem ela já tinha uma conta aberta. Já passava das 4:00 e no dia seguinte ela marcou um picnic etílico com os amigos nos Jardins do MAM.
Para a seleção da Oficina Compartilhada
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Até breve!

Foram tantas as despedidas que já nem sofria mais. O coração apertava, naturalmente. Era emotiva, passional e visceral. Mas de tanto abandonar e ser abandonada havia criado uma certa couraça que a deixava forte no momento do adeus. As lágrimas pesadas que antes denunciavam seus sentimentos íntimos e profundos deram lugar à um leve lacrimejar. Um misto de preocupação e dor, pensava, enquanto caminhava lentamente rumo à mais um desafio.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
O Cortiço

A política nunca lhe interessara e se valia de afirmações infantis sobre a inutilidade do voto. Para ela qualquer responsabilidade era inútil e pelo visto tratava o seu útero com o mesmo tipo de respeito. Respeito esse que refletia muito mais na vida dos companheiros de habitat do que em sua própria existência. Aliás, boa pergunta seria essa. Será que ela existe, ou apenas coexiste em sua sucessão de trapalhadas?
Contas a pagar, insatisfação pessoal, falta de cultura e ignorância pontuavam os anos que escorriam por entre suas mão inábeis. A falta de ambição beirava a estupidez. E o ponto alto das conversas era quando concordava com o interlocutor. Assim, escondia-se atrás da sua insegurança. A mentalidade era tão infantil que sequer sustentava qualquer discussão. Encerrava os embates aos gritos para não ter que ouvir a si própria.
E assim, divertia os que acompanhavam a problemática diariamente. E eles o faziam porque era mais fácil do que lidar com suas próprias vidas. O drama alheio anestesia e não engorda...