Aquele que procura faíscas...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Infinitivo

Se rezar faz espantar eu não sei
Madrugar para Deus ajudar também não provei
E nem sempre a espera alcança
Nessas horas é melhor
Ajoelhar para gozar
Cantar para dançar
E sorrir para não chorar.


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sábado, 26 de novembro de 2011




É aquele que fica, indisfarçável,
Colado na cara sem graça
Amarelo ovo, amarelo gema,
Amarelo farsa
E no desespero,
O portador nem disfarça
Veste o horror
E abraça a desgraça




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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Zzzzzzzzzzzzz

Não queria dormir de jeito nenhum. Lutava contra o sono com todas as suas forças e fazia pirraça na sala de estar. Quando já estava praticamente sendo arrastada para o quarto, o telefone tocou e correu para atender. Excelente desculpa para fazer um pouco mais de cera.

Era sua avó.

- Oi filhinha, tudo bem? É a vovó.

- Não quero dormir... (Disse, miando, a pequena.)

- É, filhota, tá meio cedo mesmo pra você dormir, né?

- Vó, não quero dormir... (O miado ficava ainda mais melado e ininteligível.)

- Vá pro seu quarto, querida. Obedeça à sua mãe. Peça à ela um filminho, assim você vai descansando até dar vontade de dormir. Que tal Alice no País das Maravilhas, que você adora?

- Huummm.... (E passou o telefone para o adulto mais próximo.)

Saiu da sala inconformada. Não estava com a menor vontade de dormir. Por que é que tinha que ir para o quarto? Por que não podia ficar ali mais um pouquinho? Estava tão divertido ouvir as conversas dos adultos na sala...

A mãe andava atrás dela, dando palavras de ordem: “Troque de roupa!”, “A camisola limpa está na cadeira!”, “Vai escovando os dentes enquanto eu vou pegar um pouco mais de vinho pro seu tio!”, “Não esqueça de...”. E ela se desligou do blábláblá, porque já não estava mais interessada. Queria ficar na sala, ou então nem daria ouvidos.

Vinte e cinco anos mais tarde o ocorrido veio à cabeça logo após ter colocado a pílula de melatonina na boca e ajustado o travesseiro entre as pernas - hoje também não estava com a mínima vontade de dormir. Não queria recorrer ao Rivotril, apesar da insistência médica. “Esses doutores hoje em dia não passam de traficantes de jaleco.”, pensava.

Que saudades tinha da sua avó.

Em busca de vestígios

João 8:7 = E, como insistissem, perguntando-lhe, 
endireitou-se, e disse-lhes: 
Aquele que de entre vós está sem pecado 
seja o primeiro que atire pedra contra ela.
 
Minha cabeça cai num abismo e uma das outras assume o controle. Quem é essa? Me pergunto no dia seguinte... Tento buscar alguma fagulha de pensamento no fundo do poço e só o que vem é a frase do pobre coitado, pensando alto "Você é muito linda, o beijo que você me deu...".

É claro que ele não estava entendendo nada. Eu também não estava...

O que uma garota como eu estaria fazendo com aquele estranho num motel barato da Praça Mauá? Provavelmente fugindo. De mim... Dele...

A primeira vez tinha classe. Acordei em Laranjeiras, piano ao longe... Longe?!?!? Não!! Bem perto. Ele parou de tocar, disse que tinha café, e eu atordoada só conseguia dizer que estava atrasada - e estava mesmo, era a estréia do meu primeiro projeto solo. Quando eu voltei do banheiro ele perguntou: 

- Você perdeu alguém?

- A gente vive perdendo, né? 

- Ontem você estava correndo risco de vida...

- Você é um anjo... Como é que eu faço pra ir embora?

- Você está em Laranjeiras, é só descer.

- Obrigada...

- Tchau....

Podia ser pior, e acabou sendo. Praça Mauá, sem o menor vestígio de memória. Eu já perdi alguém e deste jeito vou acabar me perdendo também.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Top Dream

Essa semana tive um monte de gente do passado pipocando nos meus sonhos. Eu nunca achei que meus sonhos tivessem significado prático algum. Às vezes sonho algo relacionado ao que pensei ou vivenciei durante o dia, o que é quase uma auto indução. Outras, fantasmas enterrados surgem do abismo silencioso sem aviso prévio.

E nesse vai e vem de vivos mortos o que acaba acontecendo é que no meio do dia você se lembra do sonho e acaba filosofando um pouco mais sobre sua vida - o que na maioria das vezes é uma perda de tempo. O top dream da semana foi o o casamento simbiótico com a pessoa que eu mais amei na vida. Mais do que a mim mesma, e por isso deu no que deu.

Em vez de sermos duas pessoas inteiras se relacionando, viramos duas meias pessoas com projeções. E o que antes era um casal, virou uma pessoa só. Mais ou menos isso. Acontece com a maior parte dos casais em maior ou menor grau, e no meu caso o grau foi extrapolado. Calamidade privada na certa. Uma tristeza.

Acabei buscando, mais uma vez, informação sobre relacionamentos simbióticos e achei um blog muito interessante. Lá, a doutora dizia que tem solução, embora afirme que seja mais fácil falar do que fazer. “Mas é só achar dentro da gente aquele lado que está perdido e recuperá-lo. Voltarmos a sermos um indivíduo por inteiro.”, afirma a médica.

E nesse momento existencialista cheguei à conclusão que nossos momentos de amantes eram mais sinceros. Ele estava comigo, eu estava com ele. E não havia mais nada lá fora. A partir do momento em que nos tornamos além de amantes, sócios, marido e mulher, além de melhores amigos e 'parceiros no crime', a coisa desandou.

É... Não dá pra ter tudo na vida…. Já dizia o sábio... E num relacionamento, não dá para ser tudo um do outro. Tem que, primeiro, ser inteiro.

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terça-feira, 1 de novembro de 2011

Antes que seja tarde

Hoje acordei apagada. E a vontade de ficar o dia inteiro na cama foi grande. Se ainda estivéssemos juntos seria um daqueles dias de se tomar licor ou porto. Na tentativa de tirar o amargo da alma, o mais doce ajuda, e o efeito é o mesmo.  Essa vontade é rara, mas quando vem não sai logo. Se arrasta pela tarde e avança a noite - e se bater insônia ainda vara a madrugada. E tudo fica com essa névoa, essa fumaça, do que um dia foi vivo, vibrante e num suspiro ofegante morreu. 


No meio desse luto percebo que mais um outubro fica para trás. Um outubro atípico. Um outubro pensante e não festejante como todos os outros. O primeiro a dar sinais de cansaço dessa vida tola. E lendo o texto do dia ele aconselha “Vive intensamente.”. Mas não é isso que eu faço? Por que então um certo dia acordo sem cor, cheiro ou sabor? Na tentativa de alegrar o cenário pinto as unhas de vermelho. Sangue. Para provar que sou feita de carne, além do osso insosso. E que me importo. A indiferença não tem cor,  nem sabor. Todo o resto é sim.


Levanto-me e preparo um chá. No armário, camomila, verbena ou hortelã? Hortelã, sem pestanejar. 


Se encontros marcados realmente dessem frutos eu teria tido uns 12 namorados nos últimos anos. Mas não. E é aí que você percebe o quão equivocados estavam seus amigos. Não te conhecem nada. E muito menos os possíveis pretendentes. Ensimesmados querem apenas mais um casal para compartlhar suas chatices a dois. Como é irritante juntar-se à casais em programas coletivos. Você não só abre mão da sua individualidade para tentar dar certo com a pessoa escolhida, como também ainda tem que lidar com os caprichos dos outros demais. 


Ai, gente chata. E eu já não disse que acordei apagada? Apagada e chata também. Que o dia acabe logo, antes que a garrafa chegue ao fim.

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